segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O amor precisa ser cultivado para brotar e gerar frutos

Artigo publicado no jornal Tododia, da região de Campinas, de 08/11/2010

Às vezes, as crianças dizem coisas comoventes. Quero dividir com vocês a frase de uma menina de oito anos que me deixou muito feliz. Próximo ao dia das crianças, ela pediu à mãe uma boneca Barbie, do recém-lançado filme Moda e Magia. O custo do brinquedo não é nada acessível, então a mãe propôs que a filha escolhesse algo mais barato, esclarecendo que não tinha dinheiro suficiente para comprar aquela boneca. Conformada, a menina escolheu um jogo de canetinhas coloridas que podem ser usadas em azulejos, pois basta lavar com água e sabão que a tinta sai facilmente. Satisfeita com o seu presente, a menina convidou a mãe para tomar banho com ela. Poderiam brincar juntas fazendo desenhos na parede do banheiro. A mãe concordou e ambas tomaram um banho divertido. A brincadeira consistia em cada qual desenhar algo que a outra teria de adivinhar o que era. Assim, muitos desenhos foram feitos. Dando sequência à brincadeira, a menina fez algo semelhante a um coração. De cima, saía uma haste onde havia duas folhinhas. A mãe logo imaginou se tratar de um pêssego, no entanto, foi surpreendida pela resposta da filha: - Não, mãe. É um coração cultivado de amor! A mãe chorou de emoção diante das palavras da menina, pois percebeu que o amor é realmente uma construção, e precisa ser cultivado.

Algumas pessoas me perguntam por que o mundo está superficial, violento, frio. Imaginam que o amor deveria solucionar todos os problemas, e o veem como algo mágico, pressupondo que brota das pessoas como a água da mina. Cometem um pequeno equívoco. As pessoas nascem capacitadas para amar, mas isso não quer dizer que sejam obrigadas a fazer essa escolha. Atualmente, muitos optam em seguir sozinhos (individualismo), deixando de lado ações comunitárias, altruístas e solidárias. Procuram a satisfação de seus próprios desejos (egoísmo), pouco se importando se ferem ou magoam as outras pessoas. Priorizam o aspecto financeiro (ter), ao invés de investirem em valores imutáveis e perenes, como a moral e a ética. Optam por acumular bens e riquezas, desejando sempre mais (ganância), quando poderiam partilhar os dons e talentos com os quais foram agraciados desde o nascimento. É uma questão de escolha.

Para escolher o amor, precisamos conhecê-lo. Ele não brota simplesmente dos corações, mas precisa ser cultivado. A vivência do amor exige renúncia, principalmente ao egoísmo (amor-próprio), e atos de serviço (doação). Examine como é isso mesmo que acontece quando uma mulher se torna mãe. Ela cede o próprio corpo para o desenvolvimento de uma nova vida, suportando todos os incômodos advindos dessa situação. Posteriormente, ela continua se doando ao amamentar e cuidar de seu filho. Hoje em dia, muitas mulheres já estão fazendo outras escolhas. Algumas optam por não terem filhos. Outras por não amamentar. Muitas por deixar a criança aos cuidados de terceiros. Vai ficando difícil cultivar o amor, pois não existe tempo nem interesse para isso. Impressiono-me com tantas lamentações, já que o resultado dessas atitudes é tão óbvio. Só pode dar amor quem o recebeu, quem aprendeu e assimilou o significado de amar. Isso não me parece tão difícil de entender, já que a protagonista de nossa história tinha apenas 8 anos de idade. Vale ressaltar que somente corações cultivados podem dar frutos!


Maria Regina Canhos Vicentin, Escritora

domingo, 24 de outubro de 2010

Adolescência: partilhando a solidão

Artigo publicado na Coluna Opinião, da Gazeta de Piracicaba, de 24/10/2010:

Andrea R. Martins Corrêa

É preciso olhar com mais cuidado para nossos adolescentes.

Temos muitas informações sobre adolescência: uma fase de mudanças, de novas referências, de grupalização, de enfrentamento e timidez ao mesmo tempo, de encantamento com a sexualidade, de desejos e frustrações intensas. Apesar disso - ou até por isso -, não sabemos como lidar, como escutar ou mesmo falar com os adolescentes.

É urgente a necessidade de se criar canais de comunicação, incentivando os adolescentes a dizerem como vêem o mundo e o que dele esperam, como sentem a vida e o que pensam do futuro, como vivenciam as relações de amizade e de paixão.

Através de diversos tipos de grupos, seja na escola, na academia, na balada ou em família, os adolescentes criam uma forma própria de se comunicar, que não prescinde, no entanto, da atenção e do acompanhamento dos adultos. Podemos e devemos tentar compreendê-los, mantendo-nos perto e longe, firmes e afetivos, fortes e frágeis.

Muitas vezes cobramos dos adolescentes posturas mais maduras diante dos problemas que a vida traz, mas não oferecemos recursos suficientes para que eles aprendam ou se disponham a enfrentar as dificuldades.

Optamos, nem sempre conscientemente, pela solidão, que pode muito bem ser saudável em determinados momentos, mas que torna-se motivo de grande angústia quando impede constantemente o compartilhar: cada um em um quarto, cada qual no seu mundo.

Estar junto, partilhar as dores e sofrimentos, as alegrias e as vitórias, com palavras ou em silêncio, com gestos e olhares, com dúvidas, medo e vergonha ( muita vergonha! ), é ainda um caminho possível, uma trilha de pedras e cacos que pede nossa presença, paciência e amor.

Andrea R. Martins Corrêa, é psicóloga.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

MEIMEI (Irma de Castro Rocha)

RESUMO BIOGRÁFICO: (*22/10/1922 - +01/10/1946)

Homenageada por tantas casas espíritas, que adotam o seu nome; autora de vários livros psicografados por Chico Xavier, entre eles: "Pai Nosso", "Amizade", "Palavras do Coração", "Cartilha do bem", "Evangelho em Casa", "Deus Aguarda", "Mãe" etc... e, no entanto, tão pouco conhecida pelos testemunhos que teve de dar quando em vida, Irma de Castro - seu nome de batismo - foi um exemplo de resignação ante a dor, que lhe ceifou todos os prazeres que a vida poderia permitir a uma jovem cheia de sonhos e de esperanças. Meimei nasceu em 22 de outubro de 1922, na cidade de Mateus Leme - MG e transferiu residência para Belo Horizonte em 1934, onde conheceu Arnaldo Rocha, com quem se casou aos 22 anos de idade, tornando-se então, Irma de Castro Rocha. O casamento durou apenas dois anos, pois veio a falecer com 24 anos de idade, no dia 01 de Outubro de 1946, na cidade de Belo Horizonte-MG, por complicações generalizadas devidas a uma nefrite crônica.

A Origem da Doença

Durante toda a infância Meimei teve problemas em suas amígdalas. Tinha sua região glútea toda marcada por injeções. Logo após o casamento, voltou a apresentar o quadro, tendo que se submeter a uma cirurgia para extração dessas glândulas. Infelizmente, após a operação, um pequeno pedaço permaneceu em seu corpo, dando origem a todo o drama que viria a ter que enfrentar, pois o quadro complicou-se com perturbações renais que culminaram com hipertensão arterial e craniana.

O Sofrimento

Devido à hipertensão, passou a apresentar complicações oculares, perdendo progressivamente a visão e tendo que ficar dia e noite em um quarto escuro, sendo que nos dois últimos dias de vida já estava completamente cega. Durante os últimos dias de vida, o sofrimento aumentou. Tinha de fazer exames de urina, sangue e punções na medula, semanalmente. Segundo Arnaldo Rocha, seu marido, Meimei viveu esse período com muita resignação, humildade e paciência.

O Desencarne

Os momentos finais foram muito dolorosos. Seus pulmões não resistiram, apresentando um processo de edema agudo, fazendo com que ela emitisse sangue pela boca. Seus últimos trinta minutos de vida foram de desespero e aflição. Mas, no final deste quadro, com o encerramento da vida física, seu corpo voltou a apresentar a expressão de calma que sempre a caracterizou. Meimei foi enterrada no cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte.

Surge Chico Xavier
 
Aproximadamente cinqüenta dias após a desencarnação da esposa, Arnaldo Rocha, profundamente abatido, acompanhado de seu irmão Orlando, que era espírita, descia a Av. Santos Dumont, em Belo Horizonte, quando avistou o médium Chico Xavier. Arnaldo não era espírita e nunca privara da companhia do médium até aquele momento. Quase dez anos atrás haviam-no apresentado a ele, muito rapidamente. Ele devia ter pouco mais de doze anos. O que aconteceu ali, naquele momento, mudou completamente sua vida. E é ele mesmo quem narra o ocorrido: "Chico olhou-me e disse: "Ora gente, é o nosso Arnaldo, está triste, magro, cheio de saudades da querida Meimei"... Afagando-me, com a ternura que lhe é própria, foi-me dizendo: "Deixe-me ver, meu filho, o retrato de nossa Meimei que você guarda na carteira." E, dessa forma, após olhar a foto que Arnaldo lhe apresentara, Chico lhe disse: - Nossa querida princesa Meimei quer muito lhe falar!"

E, naquela noite, em uma reunião realizada em casa de amigos espíritas de Belo Horizonte, Meimei deixou sua primeira mensagem psicografada. E, com o passar dos anos, Chico foi revelando aos amigos mais chegados que Meimei era a mesma Blandina, citada por André Luiz na obra "Entre a Terra e o Céu" (capítulos 9 e 10), que morava na cidade espiritual "Nosso Lar"; disse, também, que ela é a mesma Blandina, filha de Taciano e Helena, que Emmanuel descreve no romance "Ave Cristo", e que viveu no terceiro século depois de Jesus.

Enfim, para concluir, resta apenas dizer que "Meimei" era um apelido carinhoso que o casal Arnando-Irma passou a usar, após a leitura de um conto chamado "Um Momento em Pequim", de autor americano. Ambos passaram a se tratar dessa forma: "Meu Meimei". E, segundo Arnaldo, Chico não poderia saber disso.

(Meimei - expressão chinesa que significa "amor puro")

Materialização de Meimei

"Uma noite, sentimos um delicioso perfume. Intimamente, achei que era o mesmo que Meimei costumava usar. Surpreendi-me quando percebi que o corredor ia se iluminando aos poucos, como se alguém caminhasse por ele portando uma lanterna. Subitamente, a luminosidade extinguiu-se. Momentos depois, a sala iluminou-se novamente. No centro dela, havia como que uma estátua luminescente. Um véu cobria-lhe o rosto. Ergueu ambos os braços e, elegantemente, etereamente, o retirou, passando as mãos pela cabeça, fazendo cair uma cascata de lindos cabelos pretos, até a cintura. Era Meimei. Olhou-me, cumprimentou-me e dirigiu-se até onde eu estava sentado. Sua roupagem era de um tecido leve e transparente. Estava linda e donairosa! Levantei-me para abraçá-la e senti o bater de seu coração espiritual. Beijamo-nos fraternalmente e ela acariciou o meu rosto e brincou com minhas orelhas, como não podia deixar de ser. Ao elogiar sua beleza, a fragrância que emanava, a elegância dos trajes, em sua tênue feminilidade, disse-me: - "Ora, meu Meimei, aqui também nos preocupamos com a apresentação pessoal! A ajuda aos nossos semelhantes, o trabalho fraterno fazem-nos mais belos e, afinal de contas, eu sou uma mulher! Preparei-me para você, seu moço! Não iria gostar de uma Meimei feia!"

Texto de Arnaldo Rocha. Trecho do livro "Chico Xavier - Mandato de Amor".
União Espírita Mineira - Belo Horizonte, 1992.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Fotos da Biblioteca

Fotos da Biblioteca Infantil e Trabalhadoras


Da esquerda para a direita: Vitória e Benigna

Fotos dos Trabalhadores

Estas são as fotos de alguns dos nossos trabalhadores

Da esquerda para direita em pé: Glaucia, Ivan, Esther, Beth,
Valquiria, Benigna, Paulo e Assahi
Da equerda para direita sentados: Suzana, Demetrius,
Lucas Capovilla, Márcia, Nelise e Thais

Da esquerda para direita em pé: Glaucia, Ivan, Esther, Cidinha,
Beth, Valquiria, Benigna, Paulo e Assahi
Da equerda para direita sentados: Suzana, Demetrius,
Lucas Capovilla, Márcia e Nelise

"Pequeninos hoje, Esperança do amanhã."
(Beth, trabalhadora)

Fotos do Mural

Este é o nosso mural, que fica no corredor do andar térreo da nossa Casa.


Evangelização Infantil - NFS

Há tempos, que estavamos procurando uma forma carinhosa e alegre, de fazermos uma divulgação maior do nosso trabalho na Evangelização Infantil, do Núcleo Fraterno Samaritanos, São Paulo, Capital.

Daí surgiu a ideia de tirarmos fotos dos trabalhadores, e postarmos neste Blog da Evangelização, para que todos que aqui visitem, nos conheçam. E que compartilhem da nossa alegria e motivação de ajudarmos essas crianças e jovens.

As fotos que vocês visualizarem nos próximos posts, foram tiradas no último dia 09 de outubro de 2010, um sábado, em uma manhã fria.

Educar deve ser uma ação, antes de mais nadam recheada de
alegria e motivação! (Tatiana Benites)

Equipe da Evangelização Infantil
Núcleo Fraterno Samaritanos

Artigo - A bela e difícil arte de ensinar

Artigo publicado na Gazeta de Piracicaba, em 15/10/2010:

Varuna Viotti Victoria

Em qualquer tipo de trabalho é possível ter sucesso mesmo que não se goste muito do que faz.

Quando falamos porém de educar seres humanos este sucesso só pode ocorrer se quem educa ama de fato o que faz. Quando trabalhamos em especial com crianças este amor à profissão torna-se ainda maior. Não dá para fingir que gostamos de crianças porque elas percebem que é falso e não correspondem ao adulto que finge ter este amor.

Em outras áreas profissionais é até possível exercer uma profissão de forma adequada e ter sucesso mesmo que não haja um gostar verdadeiro pelo trabalho. Mas, quando educamos crianças e jovens é preciso amar muito o que fazemos.

Alguém pode até exercer bem tecnicamente o trabalho de ensinar seres humanos mas, certamente, por mais técnica e conhecimento que um adulto tenha sobre educação o resultado final esperado por quem educa nunca será o mesmo daquele obtido por um professor que ama o que faz.

O amor pela educação traz uma vontade muito maior de transformar através da arte de participar do aprendizado de alguém. O conhecimento técnico nunca vai ser suficiente para modificar comportamentos por ex, se o professor não tiver real vontade de ajudar nesta transformação. E a vontade não será suficiente se não houver amor pela profissão.

Quem assistiu o filme "Vem dançar" teve a oportunidade de sentir como o amor pelo ensino é capaz de transformar para melhor as pessoas. Este filme retrata um fato verídico acontecido nos Estados Unidos, no qual um professor de dança de salão, que tem uma academia particular de dança, conhece casualmente um jovem extremamente rebelde, que estava danificando o carro da diretora de seu colégio e resolve ir até à escola para conhecer a realidade daqueles jovens. Trata-se de uma escola de alunos difíceis que ficam confinados após as aulas por não terem condições de conviver socialmente pois apresentam sérios distúrbios comportamentais.

Este professor de dança resolve que vai tentar mudar a vida destes alunos através de aulas voluntárias de dança de salão. Faz a proposta à direção da escola, que a princípio ri muito de sua ideia ousada mas resolve dar-lhe uma chance. Os primeiros contatos com aqueles jovens rebeldes e sem esperanças na vida são terríveis. Eles só gostam de dançar rap, funk e o professor quer ensinar-lhes bolero, tango, etc.

Com a persistência deste professor voluntário, aos poucos, estes alunos rebeldes vão se interessando pela dança, vão ao mesmo tempo criando vínculos com alguém que realmente, sem interesse algum se importa com eles. Acabam se tornando ótimos dançarinos e até participam brilhantemente de um torneio de dança na cidade. Enquanto aprendiam as danças estes jovens foram descobrindo seus valores como pessoas, foram se transformando por causa deste professor que ama o que faz.

O filme mostra como o poder da educação certa é forte. Mostra que não basta apenas rotular maus alunos sem fazer nada para modificar comportamentos negativos.

O filme é baseado em um fato verídico e estas aulas de dança foram ampliadas e estendidas para várias escolas e os resultados estão sendo muito bons.

Este professor não apenas aproveitou adequadamente o gosto pela dança deles mas também lhes mostrou que poderiam aprender novas danças e que através delas, poderiam crescer como pessoas e se valorizar muito mais.

Que neste Dia do Professor, todos nós educadores tenhamos consciência plena do quanto é importante amar a difícil arte de educar e educar é isto: transformar a vida de pessoas para melhor.
Varuna Viotti Victoria - pedagoga

Educação

André Luiz

O amor é a base do ensino.
Professor e aluno, cooperação mútua.

O auto-aprimoramento será sempre espontâneo.
Disciplina excessiva, caminho de violência.

A curiosidade construtiva ajuda o aprendizado.
Indagação ociosa, dúvida enfermiça.

Egoísmo nalma gera temor e insegurança.
Evangelho no coração, coragem na consciência.

Cada criatura é um mundo particular de trabalho e experiência.
Não existe vocação compulsória.

Toda aula deve nascer do sentimento.
Automatismo na instrução, gelo na idéia.

A educação real não recompensa nem castiga.
A lição inicial do instrutor envolve em si mesma a responsabilidade pessoal do aprendiz.

Os desvios da infância e da juventude refletem os desvios da madureza.
Aproveitamento do estudante, eficiência do mestre.

Maternidade e paternidade são magistérios sublimes.
Lar, primeira escola; pais, primeiros professores; primeiro dia de vida, primeira aula do filho.

Pais e educadores! Se o lar deve entrosar-se com a escola, o culto do Evangelho em casa deve unir-se à matéria lecionada em classe, na iluminação da mente em trânsito para as esferas superiores de Vida.

Do livro O Espírito da Verdade.
Psicografia de Francisco Cândido Xavier.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Artigo - A Semana da Criança

Artigo publicado na Gazeta de Ribeirão, de Ribeirão Preto, em 14/10/2010

Nelson Jacintho

A criança merece ter um dia para ser comemorado porque entre os seres vivos, ela é o que mais nos mostra vontade de viver. A criança tem energia, tem vontade, tem alegria de viver. A criança tem vida exalando por todos os seus poros. Claro está que estou falando de uma criança ideal, uma criança que todo o pai gostaria de ter.

Infelizmente o que vemos hoje em dia é uma criança que eu poderia de chamar de miniatura de adulto. Por quê? Alguém diria. Porque a criança atual é uma criança cheia de responsabilidades, que não tem tempo para nada. A criança de hoje vai, ou é transportada para os mais diversos lugares durante o dia. Ela vai ao colégio, à aula de recuperação, à aula de inglês, à natação, ao balé, à aula de computação. Esqueci de alguma obrigação? Tenho certeza de que há crianças que fazem mais do que eu acabei de enumerar. Algum pai deve estar falando: ainda tem o judô, o kung fu e as aulas de ginástica dos colégios! Há mais alguma obrigação da criança atual? Com certeza deve haver!

Ao iniciar esta crônica me lembrei do meu tempo de criança, quando cresci correndo atrás da bola de pano, jogando com as bolinhas de gude (bolinhas de vidro), brincando de pique, de cabra cega. As meninas brincavam de amarelinha, de jogar peteca, de pular corda, de brincar de boneca! Nós fazíamos tudo isso e sobrava tempo para sermos bem educados pelos nossos pais, para estudarmos, para decidirmos o que queríamos ser quando adultos, para crescermos felizes e sem conflitos. Sabem por quê? Porque tínhamos os pais ao nosso lado, ajudando-nos, orientando-nos. Onde estão os pais de hoje?

Voltando à criança atual, nós verificamos que essas crianças, pequenos adultos em miniatura, como disse, carregam uma carga de responsabilidade quase que impossível de ser carregada. A diversão da criança atual fica no teclado do computador, na tela do monitor e da televisão. Enquanto o cérebro se desenvolve dirigido por apenas um estímulo, os músculos sofrem a atrofia da inércia. As crianças não sabem o que serão no futuro porque não têm tempo para pensar nele, nem a presença dos pais para orientá-las. de sua aptidão por falta de conhecimento.

O mundo está ficando muito severo com as crianças! A criança tem que voltar a ser criança, para que o mundo volte a ser feliz!

 
Nelson Jacintho pertence à Academia Ribeirão-pretana de Letras e é
coordenador do Grupo de Médicos Escritores e Amigos Doutor Carlos Roberto Caliento

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Artigo - DIA DAS CRIANÇAS - Um presente inesquecível para seu filho

Artigo publicado em 06/10/2010, no Jornal TodoDia, da região de Campinas

O Dia das Crianças está chegando e, por defender que as coisas que realmente importam na vida custam zero, é comum o recebimento de e-mails com questionamentos de alguns pais sobre qual melhor presente comprar. Muitos desses pais acabam usando a data comemorativa para aplicar a “lei da compensação” com seus filhos, tornando o dia um prato cheio de possibilidades para o comércio.

Não tem nenhum problema dar o vigésimo quinto carrinho para seu filho ou a trigésima terceira boneca para sua filha, se você brinca efetivamente com eles e seus brinquedos. Quando falo brincar, quero dizer aproveitar de verdade o presente, ou seja, sentar ao lado do seu filho e criar estradas no universo da imaginação para o carrinho passear; comer a papinha que ela faz para a boneca e sujar a roupa de tanto empurrar o carrinho de bebê pelos corredores da casa.

A maioria dos pais trabalha muitas horas por dia, saem cedo de casa, antes de o filho acordar e, quando retornam, a criança já dormiu, o que gera um sentimento de culpa que tende a tomar conta desse pai, dessa mãe. Com o objetivo de compensar a ausência, muitos compram o objeto de desejo do pequeno, nessa data e em todas as outras, sem perceber que a verdadeira vontade deles é ter a presença dos pais mais intensa quando chegam do trabalho, para brincar ou simplesmente perguntar com real interesse como foi o seu dia e estar disposto para ouvir a resposta.

Construir um vínculo com seu filho é o que reforça uma relação com significado e confiança. Capaz de gerar uma recompensa em beijos e afetos impagáveis. Porém, essa intimidade não se constrói baseado na quantidade de horas que você passa ao lado dos pequenos ou quem quer que seja, mas o que vai fortalecer a relação é a intensidade do momento que estão vivendo juntos. Comece comprometendo-se com você e use toda sua criatividade para criar momentos preciosos e intensos com as pessoas que ama. Não leve celular ou qualquer outro aparelho que possa lhe tirar a atenção das pessoas que realmente importam para você.

Pensando nisso, qual o melhor presente para o pequeno? Imagino que uma atividade cheia de alegria e valores, como um banho de mangueira, seja algo especial e único para dar ao seu filho. Pegue um dia de sol e curta ao máximo esse momento, saboreie cada gargalhada, cada gesto de felicidade que essa simples brincadeira pode proporcionar. Seu filho pode não se lembrar do primeiro brinquedo que ganhou e certamente não se lembra do último, mas o banho de mangueira será lembrado por toda sua vida. Como dizia o poeta “as coisas que realmente importam na vida, duram somente o tempo necessário para se tornarem inesquecíveis”.

Pense nisso em todas as datas que unem as famílias, como um grande amigo fez. Ele resolveu inovar na data de aniversário de seu filho, pois estava cansado da tradicional festa no buffet infantil, onde todos os afazeres e detalhes são terceirizados e o tempo de duração desta data tão importante é estipulado pela empresa. Então ele reuniu a esposa e o filho, e propôs um acampamento. A criança poderia convidar todos os amiguinhos para passar a tarde inteira brincando e, no final do dia, cada um montaria a sua cabana, barraca ou até mesmo espalhariam colchões pela sala para que todos pudessem dormir juntos. Com criatividade e custo zero foi possível curtir e participar muito mais ativamente da festa, tendo a oportunidade de dormir no meio da criançada e acordar com o olhar do seu filho sentindo orgulho do pai que tem. Isso sem falar do benefício de saber ainda mais o perfil dos amigos do seu filho.

Alguns pais podem pensar que curtir piquenique, ver pôr-do-sol, tomar banho de mangueira, parece uma atividade de preguiçoso, que é muito mais fácil e rápido comprar um brinquedo na primeira loja que entrar e tudo estará resolvido. Mas esse pai está deixando de herança para o seu filho o sentimento de angústia. Com essas atitudes, esse pai está o tempo todo dizendo para o seu filho, “seja um angustiado como eu”.

Pense nisso, e veja se de fato é esse o seu desejo para o futuro do seu filho. Saiba que a felicidade é um sentimento que aflora da parte mais íntima do nosso ser, e que a correria do dia a dia acaba insistindo em sufocá-la. A vida passa muito rápido para não curtirmos com as pessoas que amamos tudo aquilo que realmente importa. Então, não perca mais tempo, curta as coisas boas da vida e presenteie o seu filho com a atenção e carinho que ele merece, e no final sentirá que o maior presenteado foi você!
Anderson Cavalcante
Administrador de empresas com ênfase em
Marketing e MBCpela University of Florida

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

'AMIGOS DO ZIPPY' - Lippi vai para Londres receber homenagem

Matéria publicada em 02/10/2010, do jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba

O prefeito Vitor Lippi (PSDB) embarca no próximo sábado para Londres, na Inglaterra, onde será homenageado pela Partnership for Children, entidade que coordena o programa Amigos do Zippy no mundo. Além da distinção pública, Lippi fará palestra no dia 13 e apresentará um vídeo, de cerca de 5 minutos, mostrando para cerca de 200 pessoas de várias cidades do mundo, que também contam com o Amigos do Zippy, como funciona o projeto em Sorocaba.

A homenagem é em função de Sorocaba ter sido modelo para o mundo em três ações: aplicação do Amigos do Zippy em escola pública, criação do Amigos do Maçã, que é uma sequência do primeiro, e a implantação do programa Amigos do Zippy em Casa, que abrange os pais, a família do aluno.

Em Sorocaba, os Amigos do Zippy e Amigos do Maçã beneficiam 7 mil estudantes, de 7 e 8 anos, e o Amigos do Zippy em Casa envolve centenas de pais e responsáveis que participam mensalmente de reuniões. Como os filhos, eles conversam e aprendem a trabalhar a questão emocional, contribuindo para a melhoria do relacionamento.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A CULPA É DE QUEM? Viva suas decisões sempre de forma intensa

Artigo publicado no jornal TodoDia, de Campinas, em 14/09/2010

Por que nos sentimos culpados? Todos nós, em algum momento de nossas vidas, já experimentamos o sentimento de culpa. Não ficar em casa com os pais para ir a uma festa; não ligar para o amigo por não querer vê-lo naquele dia; deixar de realizar atividades pessoais para dedicar esforço e atenção à profissão, são algumas das decisões que podem, posteriormente, nos agregar a sensação de que somos responsáveis somente por aquilo que não fizemos. Mas, e as tarefas que escolhemos fazer? Como equilibrar realização e culpa?

Para as mães, a aversão as escolhas de suas tarefas diárias faz com que a sensação de estar agindo de forma incorreta tome conta da sua essência. Um estudo realizado pela Universidade Colúmbia de Nova Iorque (EUA) e divulgado na primeira semana de agosto deste ano, revelou que, no primeiro ano de vida da criança, o trabalho materno não afeta significativamente no seu desenvolvimento emocional ou na sua capacidade de aprendizado no futuro.

A pesquisa americana, realizada durante sete anos com mais de 1.000 crianças, conclui que a mulher não precisa se martirizar por não acompanhar o pequeno nos primeiros momentos da vida dele. Ainda assim, é de duvidar que as mães deixem de se culpar pela ausência nas descobertas do dia a dia da criança. Esse fato pode ser explicado pela cobrança imposta pela sociedade à mulher e, também, a própria figura feminina que mantém um grau alto de exigência do cumprimento de suas atividades como mãe, esposa e profissional.

Por que somos tomados por esse sentimento que tanto nos machuca e por vezes perdura por um longo tempo? As pessoas costumam tomar decisões no chamado “piloto automático”, deixando de lado a consciência do corpo, mente e alma naquilo que estamos a realizar. Então vem a culpa, essa tende a ser uma resposta do nosso verdadeiro EU, aquele que realmente sabe o que importa para nós. Em algum momento de nossas vidas, por algum motivo, a missão que definimos é deixada em segundo plano. Esquecemos os objetivos e metas que estabelecemos para a nossa existência e passamos a valorizar as necessidades externas e as cobranças alheias.

Retomar os desejos do passado e ser sincero com o verdadeiro EU pode não ser tão simples, pois isso significa quebrar a rotina, o condicionamento da conformidade. E é por isso que nos culpamos em deixar a criança aos cuidados de outros tutores, enquanto nos estabelecemos profissionalmente, ou seja, ainda que difícil, a culpa passa a ser um caminho mais simples. Se pensarmos por outro lado, o estudo indica que a ausência pode ser compensada por fatores como a boa qualidade nos tratamentos médicos, a harmonia familiar, a segurança financeira e até a sensibilidade mais aguçada da mãe que se realiza no trabalho.

A missão é o despertar, é a consciência de que não estamos aqui por acaso, que existe um caminho de crescimento e desenvolvimento a ser seguido de acordo com nossos valores e somente nós somos os responsáveis por cada passo nessa caminhada rumo ao desejado. Definido esses conceitos é hora de agir, você verá que a colheita será de realizações. Quando agimos de acordo com nossos valores, não somos tomados pela sensação de omitir algo e conseguimos dar continuidade a nossa jornada. Diariamente temos a oportunidade de definir quem somos através de nossas escolhas, que vai desde a roupa que será usada para ir ao trabalho até se iremos voltar a padaria para devolver o troco que estava errado. São essas escolhas que moldam nosso caminho, tornando-o mais leve ou cheio de pedras. O segredo é justamente esse, ter objetivo, fracionar nossa missão traçando metas e transformando-as em ação.

Se houver dúvidas entre ser mãe ou se dedicar a uma carreira profissional, pare, ouça apenas seu coração, sua consciência, com base em seus valores e crenças. Saiba que muitas vezes buscamos em outros lugares as respostas que estão dentro de nós. Mentalize seu objetivo, faça um balanço da situação, avalie se existe um meio termo e, caso não haja, perca o medo de decidir pois quando a escolha estiver pautada naquilo que você realmente acredita, será a decisão correta, não para os outros, mas para você, e é isso o que importa. Viva suas decisões sempre de forma intensa, assim, se tiver que se arrepender de algo será das atividades que realizou, jamais de algo que deixou de fazer.
Anderson Cavalcante
Administrador de empresas com ênfase em marketing e
MBC pela University of Florida

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

QUE GRAÇA,TÃO ESPERTINHO

Artigo publicado, em 17/08/2010, no Caderno Equilíbrio, da Folha de S.Paulo

Os pais permitem que a criança perceba seu poder de dar orgulho e que assuma atitudes cada vez mais ousadas

HÁ UMA frase que passou a ser muito popular entre os pais: "Meu filho nasceu com um chip diferente".

Existe uma crença atual generalizada entre as pessoas que têm filhos de que o seu rebento é precoce para a idade que tem. Uma dessas mães me disse uma frase bem-humorada que expressou muito bem tal convicção:"Eu não sou mãe coruja, eu tenho razão".

Muitos adultos têm dito que as crianças mudaram muito. Acreditam que, agora, elas têm vontade própria para quase tudo e que sabem escolher, que têm "personalidade", ou seja, que sabem impor seus pontos de vista e opiniões, que não aceitam muitas restrições e que conversam sobre os assuntos mais variados com a naturalidade e a propriedade de um adulto, entre outras coisas.
Esse pensamento geral exige uma reflexão, já que as crianças continuam sendo crianças como sempre foram, desde que a infância foi inventada. O que mudou muito foi o mundo em que as crianças vivem hoje. E, claro, mudaram seus pais e o modo como eles tratam seus filhos. E uma dessas mudanças, em especial, merece toda a nossa atenção. Eu me refiro ao modo como muitos pais permitem que seus filhos os tratem.

Quem frequenta o espaço público e observa o relacionamento entre pais e filhos certamente já presenciou, e não raras vezes, crianças de todas as idades e adolescentes tratarem seus pais com agressividade, grosserias, gritos e palavrões.

Uma conhecida me contou, indignada, que passou a tarde com uma amiga e testemunhou a filha dessa amiga, de 11 anos, chamar a mãe de "burra" e de "idiota".

Paralelamente a esse fenômeno, já temos também notícias sobre mães que foram espancadas pelos filhos.

Conversei com alguns pais que vivem esse drama e eles se posicionam de modo muito semelhante: não sabem o que fizeram de errado para que os filhos os tratem dessa maneira e não sabem também como reverter a situação.
Temos algumas pistas que nos ajudam a entender como se constrói tal quadro.
A primeira pista foi citada logo no início. O fato de os pais considerarem seu filho esperto permite que essa criança perceba o poder que tem de deixá-los orgulhosos e, pouco a pouco, vá assumindo atitudes cada vez mais ousadas na relação com eles e, consequentemente, com os adultos de modo geral.

A segunda pista está localizada no lugar que muitos pais querem ocupar em relação ao filho. Mais do que pais, querem ser seus amigos. Isso não dá certo, já que amigo ocupa sempre um lugar simétrico ao da criança ou jovem e, nesse caso, não há lugar para autoridade. Os pais podem, isso sim, ser pais amigáveis, mas nunca amigos dos filhos. O comportamento juvenil dos pais, independentemente da idade que tenham, também contribui muito para que os filhos os vejam como seus pares e não como seus pais.

Finalmente, a falta de paciência e disponibilidade para corrigir quantas vezes forem necessárias as atitudes desrespeitosas do filho faz com que pais relevem ou ignorem as pequenas atitudes cotidianas que os filhos têm e que expressam grosseria ou agressividade, quando não violência. O problema é que o crescimento desse tipo de comportamento ocorre em espiral, não é verdade?

Se não cuidarmos para que os mais novos aprendam a valorizar e respeitar a vida familiar, seus pais e os adultos com quem se relacionam, logo teremos notícias de um novo fenômeno: a intimidação, o famoso "bullying", só que as vítimas serão os pais, e os praticantes, os filhos.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
roselysayao@uol.com.br

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Deficit de atenção, de Luciana Campaner

Artigo publicado na Gazeta de Ribeirão, de 13/08/2010

Mito ou realidade? Existe mesmo esse transtorno em crianças?

Sim! O Transtorno do Deficit de Atenção (TDA) é um transtorno neurobiológico, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Algumas pessoas só possuem as dificuldades relacionadas à desatenção e concentração mas são quietinhas.

Outras, além de desatentas, são muito agitadas e essa forma é o Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Esse problema é reconhecido oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e, em alguns países como os Estados Unidos, os portadores de TDAH são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na escola (direito à prova oral, por exemplo).

O transtorno está relacionado a uma região cerebral chamada Lóbulo Pré Frontal, onde acontece um mal funcionamento de alguns neurotransmissores responsáveis pela passagem de informação entre os neurônios.

Essa região cerebral também é responsável pelo “freio” comportamental e pelo controle motor fino. É por isso que os portadores de TDAH geralmente são impulsivos, curiosos, destemidos, desorganizados, estabanados, confrontadores e falantes, isso faz parte do pacote! Existem tratamentos medicamentosos e não medicamentosos e é necessário tratar essas crianças logo cedo para evitar comportamento de risco na adolescência.

Ribeirão Preto sediou na semana passada o maior evento da América Latina sobre esse tema e outros ligados à distúrbios de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Foi o “Congresso Aprender Criança 2010: Educação, Mente e Cérebro ao Alcance de Todos”. Organizado maravilhosamente pelo Instituto Glia, o evento teve 1200 participantes de 156 cidades e 13 estados diferentes, entre cursos pré congresso, workshops e palestras. Especialistas de várias partes do Brasil dedicaram cinco dias para o ensino e troca de conhecimento sobre vários problemas que atingem nossas crianças e adolescentes e novas formas de enfrentarmos esses desafios.

Parabéns pela coragem e dedicação do Instituto Glia em, pela terceira vez, organizar um evento de porte nacional em Ribeirão Preto. É disso que precisamos: empenho para um mundo melhor!
Luciana Campaner é psicóloga clínica formada pela USP e com mestrado em neurociências
pela Faculdade de Medicina da USP-RP
site: www.inbio.com.br e e-mail: inbio@inbio.com.br

domingo, 8 de agosto de 2010

A HISTÓRIA DE JOSÉ - Na busca de um nome acabou encontrando um pai

Artigo publicado no jornal TodoDia, de 08/08/2010

José namorava há oito meses uma moça levada e inconstante. Ela era linda e ele estava completamente apaixonado. Num dia qualquer, ela resolveu que não queria mais ficar com ele, e simplesmente o deixou. O coração de José ficou em pedaços! Nem bem ela havia partido lhe chega a notícia de que tinha se amasiado com outro e, detalhe, que estava grávida. José paralisou. Será que ele era o pai? Secretamente procurou a moça para lhe perguntar quem era o pai da criança que estava esperando. Você, ela lhe disse com todas as letras; mas estou com outra pessoa hoje, e é melhor que ele pense ser o pai. José ficou desnorteado. A mulher que ele amava o havia deixado, e ainda lhe dizia que outro iria criar seu filho como se fosse dele. E assim foi. O outro registrou o filho de José como se fosse seu. Pouco tempo depois, no entanto, o convívio do casal começou a ficar conturbado, e se separaram. Moça levada estava solta novamente. Logo José apareceu oferecendo perdão, e tudo o mais que um homem apaixonado pode oferecer. Reataram.

A primeira providência que José tomou foi entrar com uma ação na justiça, reivindicando a paternidade do menino que já estava registrado no nome do outro. Meses se seguiram. A convivência era conflituosa, pois moça levada não queria saber de olhar a criança. Preferia bater papo com as comadres e passear pelas ruas, enquanto José trabalhava para nada faltar. Não demorou muito para que a moça levada cansasse novamente de José, e resolvesse que a vida de casada definitivamente não era para ela. Foi embora pela segunda vez, agora deixando o filho. José se resignou. Aquilo não era mesmo o que ele esperava de uma vida conjugal e familiar.

No início foi difícil, mas sua mãe o ajudou a cuidar do menino que ainda era pequeno. Moça levada passava uma vez por mês para ver como as coisas estavam e levar um presentinho para o filho. A vida seguia e José aguardava o momento de poder registrar o menino em seu nome. Decorridos vários meses, finalmente chegou o grande dia em que o juiz iria se pronunciar. Obviamente, o exame de paternidade do outro deu negativo, isso José já esperava. O que ele não podia sequer imaginar é que o seu exame também havia dado negativo. Ou seja, José também não era o pai do menino. O pai era um terceiro, que nem fez parte da história de José, só havia feito parte da história de moça levada.

O mundo ruiu novamente para José. Como pode acontecer com ele? E aqueles olhinhos, aquelas mãozinhas, aquele sorriso aberto? Aquele menino lindo chamando o papai? Decididamente não poderia perder tudo isso, pois o amor pela criança já havia tomado conta de todo o seu ser. Era o pai e pronto, nada iria mudar isso. Decidido a manter essa situação, ele ingressou com uma ação de adoção. Foi nessa ocasião que conheci José, a moça levada, e o menino lindo de sorriso aberto. E constatei que pai é mesmo quem cria; quem ama; quem educa. O restante é detalhe sem importância numa história que teve final surpreendente. José hoje continua solteiro, mas está feliz. E o menino conseguiu mais que um nome na certidão de nascimento. Conseguiu um verdadeiro pai!

Artigo - Paternidade e vínculos familiares

Publicado na Gazeta de Piracicaba, de 08/08/2010

Andrea R. Martins Corrêa

Não é tarefa fácil refletir sobre o papel de pai em nossa sociedade. O movimento e a dinâmica da história da humanidade criaram configurações familiares outrora impensáveis. É preciso reconhecer que, nos dias de hoje, há diversas maneiras de ser pai, de cuidar dos filhos e de constituir uma família.

A família tradicional e eterna, que se conserva a todo custo no tempo, não é mais soberana. Temos então muitos pais separados e filhos que habitam pelo menos duas residências. Novos laços amorosos, estáveis ou não, são criados, resultando muitas vezes nas chamadas famílias reconstituídas. São casais que já têm filhos de relações anteriores e por isso mesmo desempenham também o papel de padrastos ou madrastas.

Casais adolescentes de namorados desenham ainda outros formatos de organização familiar, ao morar com seus próprios pais para cuidar dos filhos que vieram sem planejamento. Constatamos aqui a forte presença dos avós na educação das crianças.

Poderíamos incluir, nessa breve descrição, as famílias lideradas por mulheres, nas quais a figura do pai inexiste, e também as famílias homo afetivas, cujo casal é formado por pessoas do mesmo sexo.

O cenário é amplo, revelando a enorme diversidade da instituição familiar contemporânea, na qual se desenvolvem vínculos parentais importantes, dentre eles os vínculos de pais e filhos.

É inquestionável que tais vínculos também vêm se modificando, propiciando maior aproximação afetiva entre os filhos e seus pais, para além das mães. Na medida em que estas desempenham mais papéis do que antigamente, principalmente no mercado de trabalho; na medida em que o universo familiar foi adquirindo novas configurações, abriu-se um novo leque de funções para o homem que desempenha o papel de pai: ele também pode e deve cuidar dos filhos, tanto quanto a mãe.

Paternidade, nesta perspectiva, não significa apenas assumir os filhos como seus, provê-los e sustentá-los, mas inclui o exercício da maternagem, algo que implica em carregar os filhos no colo, fazê-los dormir, acompanhá-los na escola, ajudá-los a comer. Cada pai a seu modo, a partir de sua própria disponibilidade e da rede de relações que participa.

Quando pais e filhos têm a possibilidade de compartilhar essa experiência, a vida torna-se mais colorida. O exercício pleno e espontâneo da paternidade enriquece os vínculos familiares, oferecendo aos filhos, especialmente, outras referências de afetividade, de atitudes e de relacionamentos.

Nosso mundo, tão carente de criatividade, agradece. Nossas crianças também. Afinal, não devemos nos esquecer de que, para elas, os pais continuam a habitar um lugar sagrado no reino da imaginação: o lugar de super-heróis, detentores de super poderes, para fazer o bem ou o mal. A escolha, sabemos, é nossa.

Andrea R. Martins Corrêa, Psicóloga e Psicoterapeuta.

sábado, 7 de agosto de 2010

Artigo - Educar: ato de amor

Publicado no Jornal Comércio da Franca, de 07/08/2010

Segundo o educador suíço João Henrique Pestalozzi, a educação é ‘um ato de amor’. Alinhado ao mesmo pensamento, o psiquiatra brasileiro de descendência nipônica Içami Tiba, escreveu o livro Quem ama, educa. Vê-se, pela manifestação dos entendidos, que educação e amor estão intrinsecamente ligados. Vale dizer: o verdadeiro processo educativo é permeado de amor.

Idêntica é a opinião do pedagogo Rubem Alves quando diz que há uma diferença entre professores e educadores. Os primeiros - afirma - são como eucaliptos. Uniformes, encontram-se em qualquer lugar. Os segundos, são jequitibás, não se encontram facilmente. A diferença entre ambos, é evidente e situada na capacidade de amar. Não só a profissão, mas, sobretudo, o educando. E ninguém está mais capacitado para amar/educar que os pais. São eles os encarregados por Deus para a impostergável e intransferível tarefa.

Segundo a Doutrina Espírita, é no lar que o espírito encontra as condições ideais para a realização do processo evolutivo. Cabe aos pais a tarefa de mostrar os caminhos, de revelar as Leis de Deus e, pelo amor, incutir no espírito recém chegado os sentimentos nobres que o ajudarão na caminhada. Foi o que fez o Mestre Jesus. Aliás - relembremos - Mestre foi o único título que Ele aceitou. Foi, é e sempre será o Mestre Divino a atender nossas necessidades evolutivas.

Agora, o Governo Federal quer aprovar Lei propondo a proibição da palmadinha que os pais, a pretexto de educar, queiram aplicar nos seus filhos. Esta lei será complemento a proibir a violência, a pancadaria, a surra, enfim, a agressão às crianças. Por este lado, a lei é bem vinda, porquanto inibe a execrável prática da violência contra crianças indefesas. Por outro, uma simples palmada, com amor, não é lamentável violência. O difícil é saber o limite, posto que este deve ser o último recurso, nunca o primeiro. O que a lei deve evitar é colocar os filhos contra os pais. Sim, porque qualquer repreensão poderá ser encarada como violência. Evidentemente que não somos favoráveis à violência. Entretanto é preciso que os pais não abdiquem da educação dos filhos que, nos últimos tempos, tem sido mercerizada para domésticos, escolinhas e/ou televisão.

É imperiosa a necessidade dos filhos reconhecerem os limites e a autoridade moral dos pais, fatores necessários a saudável convivência em sociedade. E só há uma maneira de os pais terem autoridade (não é autoritarismo!) em família: pelo exemplo. Não é pelo palavrório, pela pancadaria, pela imposição que os filhos serão convencidos. Além disso, o ensinamento também pode convencer, mas somente o exemplo arrasta, conforme nos diz Emmanuel.

Assim, se os pais desejam realmente educar os seus filhos, que seja com amor, isto é, que, pelo amor, exemplifiquem ante os filhos as virtudes que apreciam. De que adianta combater nos filhos a mentira, por exemplo, se fazemos da mentira, da dissimulação, hábito corriqueiro de nosso viver. De que adianta falarmos do respeito, da responsabilidade, se somos incapazes de respeitar um simples sinal de trânsito! Já se foi a era do ‘faça o que eu mando, não faça o que eu faço’.

Felipe Salomão
Bacharel em Ciências Sociais e diretor do Idefran
(Instituto de Divulgação Espírita de Franca)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Crianças do Século XXI

As crianças de hoje surpreendem pela sua incrível capacidade de lidar com engenhocas tecnológicas. Assustam adultos de mais de trinta anos que sentem algum desconforto frente ao computador, a botões e máquinas eletrônicas sofisticadas.

Os garotos da atualidade assistem em tempo real ao que ocorre em locais distantes de onde se encontram e estão habituados a conquistas científicas.

Tudo isso leva pais a se considerarem ultrapassados, endeusando os filhos ou considerando-os verdadeiros gênios.

Por mais que ajam com certa autonomia, as crianças de hoje, como as de ontem, têm necessidade dos adultos para lhes dizer o que fazer e o que não fazer.

Os pequenos gênios fazem birra, esperneiam e até fazem greve para conseguirem o que desejam.

Precisam de um basta que interrompa sua diversão com o game quando a hora é a da refeição, do banho ou da escola.

Necessitam receber não para regular a sua rotina e sua saúde.

Precisam de disciplina. E disciplina se faz com limites.

É um erro tratar as crianças simplesmente como cérebros ansiosos por mais e mais conhecimentos.

Elas necessitam de experiências afetivas, motivo pelo qual não podem dispensar as brincadeiras com outras crianças.

Assim como elas precisam da imposição dos limites pelos adultos, necessitam dos conflitos com seus amiguinhos para aprenderem a se relacionar com pessoas e coisas.

O mundo necessita de homens capazes de amar, de respeitar o semelhante, de reconhecer as diferenças, de pensar, muito mais do que de gênios sem moral, frios e calculistas.

A ciência, sem sentimento, tem causado males e tragédias.

Preocupemo-nos, pois, em atender a busca afetiva dos nossos filhos. Permitamos que eles convivam com outras crianças, que criem brincadeiras, usando a sua criatividade.

Busquemos ensinar-lhes, através da experiência diária, os benefícios do afeto verdadeiro, abraçando-os, beijando-os, valorizando seus pequenos gestos, ouvindo-os com atenção.

A criança aprende o que vivencia. O lar é a primeira e fundamental escola. É nele que se forma o homem de bem que ampliará os horizontes do amor, nos dias futuros. Ou o tirano genioso que pensa que o mundo deve girar ao seu redor e somente por sua causa.

* * *

Mesmo a criança considerada um gênio precisa de cuidados elementares para crescer emocionalmente.

Para se tornar, de fato, uma pessoa com capacidade de criar, produzir e desfrutar junto com os outros, a criança precisa de afeto.

As crianças de hoje não amadurecem emocionalmente mais rápido do que as de antigamente.

Elas continuam a ter medo do desconhecido, a se alegrarem com pequenas coisas, a se sentirem infinitamente tristes pela perda de um animal de estimação.

São todas experiências importantes para a formação e o aprendizado emocional do ser humano, devendo ser valorizadas em todos os seus detalhes.


Redação do Momento Espírita com base em artigo intitulado
Cérebros e Corações para o Século XXI,
do jornal Gazeta do Povo de 2 de janeiro de 1999.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Esqueceram de mim, de Rosely Sayão

Artigo publicado na Folha de S.Paulo, de 03/08/2010

Homens e mulheres acham que é possível ter filhos e manter a mesma vida que tinham antes. Não é

A MÃE de um garoto com menos de dois anos precisava ou queria ir às compras. Ela não teve dúvidas: estacionou o carro, trancou-o e deixou o filho lá dentro, dormindo em sua cadeirinha.

"Que mãe desnaturada", certamente muitos pensaram ou disseram. Será?

Esse fato foi apenas mais um do gênero que irá engrossar as estatísticas do fenômeno mundial de esquecimento de crianças no carro.

Por sorte e por intervenção de transeuntes, no caso específico citado acima, a tragédia que costuma acontecer nessas situações não ocorreu.

Muitas crianças, de todas as classes sociais, têm sido abandonadas e/ou esquecidas diariamente. Algumas, inclusive, são esquecidas pelos adultos responsáveis por elas na presença destes.

Na escola, muitas crianças ficam à espera dos pais por mais de uma hora depois de terminado o horário regular.

E a instituição escolar, muito solícita com os pais, permanece de portas abertas -às vezes até o início da noite, disponibilizando seu pessoal para ficar com as crianças até que alguém apareça para buscá-las.

Algumas escolas acreditam que prestam um tipo de serviço especial aos pais e se permitem, inclusive, cobrar por essas horas extras.

Em casa, muitas crianças ficam abandonadas em frente à televisão ou no jogo de videogame. Aliás, não é pequeno o número de pais que fazem de tudo para que seus filhos permaneçam entretidos com esses aparatos e, dessa maneira, não solicitem de nenhum modo sua presença e intervenção.

Mas há, também, o oposto disso: pais que querem fazer algum programa e, para tanto, carregam junto seus rebentos.

Hoje é comum encontrarmos mães e pais com seus pequenos bebês em shoppings, por exemplo. Ou, então, testemunharmos pais com seus filhos menores jantando às altas horas da madrugada em restaurantes ou em bares de petiscos.

Esses fatos me lembram a pergunta que a mãe de um bebê me fez, pouco tempo atrás. Profissional dedicada e com carreira em desenvolvimento, ela ocupava um alto cargo em uma empresa e um de seus compromissos profissionais era viajar com muita frequência, o que fazia com muito gosto.

Após ter seu filho cuidadosamente planejado e retomar o trabalho, essa profissional deu-se conta de que não poderia mais fazer viagens com tanta frequência e de longa duração. "O que vou colocar no lugar do que perdi, como viver de agora em diante?", perguntou ela.

A questão dessa mulher é um retrato instantâneo e em branco e preto da maternidade e da paternidade nos dias atuais.

Os valores de nossa cultura levam homens e mulheres a acreditar que é possível ter filhos e ainda manter a mesma vida que tinham antes de tê-los. Não é.

Ter filhos exige algumas renúncias, mesmo que essas sejam temporárias. Não dá para ter e fazer "tudo ao mesmo tempo agora".

Por sinal, é bom lembrar que essa é uma máxima da juventude e, quando se tem filhos, a juventude deve ceder espaço à maturidade, independentemente da idade cronológica da pessoa. Esse amadurecimento tem sido uma raridade nos dias atuais.

Nem sempre os adultos que decidem ter filhos se dão conta da complexidade dessa decisão, já que alguns dos valores importantes da atualidade apontam para a manutenção da juventude a qualquer custo e para a busca quase desesperada da felicidade.

Filhos não podem ser descartados, e muitos têm sido. Ter filhos leva a pessoa a ter de renunciar, ceder, abdicar. Afinal, não foram as crianças que pediram para nascer, não é verdade?

sábado, 31 de julho de 2010

Em que as Crianças Espíritas não Acreditam?

- As crianças espíritas NÃO acreditam que os anjos têm asas.

- As crianças espíritas NÃO acreditam no sinal da cruz.

- As crianças espíritas NÃO acreditam em Adão e Eva.

- As crianças espíritas NÃO acreditam em “milagres”.

Em que as Crianças Espíritas Acreditam?

As Crianças espíritas ACREDITAM que os anjos, sendo espíritos muito puros, não necessitam de asas para atravessar o espaço. Todos os espíritos puros (como os anjos) podem atravessar o universo inteiro fazendo uso, apenas, da força do pensamento! Os padres dizem que os anjos (ou espíritos puros) têm asas simplesmente porque os passarinhos, para voar, usam asas...

As crianças espíritas não fazem o sinal da cruz PORQUE SABEM que êsse sinal não tem o menor valor. O que têm valor são os nossos bons pensamentos.

As Crianças espíritas NÃO ACREDITAM que Adão e Eva foram os primeiros habitantes da Terra. Também NÃO ACREDITAM que Eva foi tirada da costela de Adão, pois essa lenda não passa de uma história para enganar as criancinhas ingênuas.

As Crianças espíritas NÃO ACREDITAM em “milagres” porque sabem que tudo tem uma causa. Quando alguma coisa de espantoso acontece, as pessoas ignorantes dizem que foi “milagre” porque ignoram a causa. Ora, a causa dêsses fenômenos, geralmente, são os espíritos de luz, nossos bons amigos: êles podem fazer curas, podem conversar conosco, dar conselhos, etc. Ora, não há “milagre” nenhum em um espírito fazer curas, conversar conosco, etc. O “milagre”, pois, não existe.

Revista Kardequinho
Fevereiro de 1965

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Como lidar com os distúrbios mentais na infância

29/07/2010 - 14:49 - Atualizado em 29/07/2010 - 16:45

João*, de 8 anos, não sorria para os familiares, não gostava de contato social e era agressivo com os pais. Conheça a história da mãe que teve de aprender a amar seu filho

Eliseu Barreira Junior
Revista Época


Os craques santistas Neymar, Paulo Henrique Ganso e Robinho são os três ídolos de João*, de 8 anos. Assim como muitos garotos da sua idade, ele adora futebol e toda semana se reúne com os coleguinhas de escola para jogar uma "pelada". "Sou meia-atacante", diz orgulhoso. Na vida de João, porém, o esporte é mais que uma paixão ou divertimento. É uma forma dele se socializar e superar as dificuldades de um grave transtorno de desenvolvimento que já trouxe muita preocupação para sua mãe, a engenheira química Cláudia*.

O filho tão desejado por Cláudia nasceu em um parto complicado. Por causa disso, ele teve de ficar internado durante dez dias antes de ir para casa com a mãe. Conforme crescia, João demonstrava um comportamento pouco comum: não sorria para os familiares, não gostava de contato social, era agressivo com os pais sem motivo, não reagia afetivamente e não falava. Para a família, tudo aquilo parecia natural, coisa de criança. Até que, ao completar 1 ano e 8 meses, ele passou a frequentar um berçário. No ambiente escolar, ficou evidente que havia algo de errado: João batia nas outras crianças, não gostava das professoras e evoluía de modo incompatível com a sua idade. Os profissionais do berçário recomendaram então que Cláudia procurasse ajuda médica.

Levado a um psicólogo, foi constatado que João apresentava traços de uma criança autista, apesar de não ter autismo. O diagnóstico: Transtorno Global do Desenvolvimento. Sob o nome, estão incluídos graves distúrbios emocionais e transtornos relacionados à saúde mental infantil. "Os problemas dessas crianças não vêm necessariamente de uma debilidade intelectual nem de uma debilidade física", afirma Maria Cristina Kupfer, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP) e estudiosa da psicose e autismo infantis há mais de vinte anos. "Seus problemas vêm de uma falha precoce no estabelecimento da relação com os outros."
 
Isso quer dizer que, para crianças como João, a construção do psiquismo voltado para o convívio social não se fez convenientemente. Nosso psiquismo (ou nossa personalidade) é construído para ser um instrumento de relação com os outros, uma espécie de porta aberta para o mundo. "A falha nesse processo é resultado das dificuldades, acidentes, entraves ou impasses ocorridos durante o processo de estruturação subjetiva da criança", diz a psicanalista Enriqueta Nin Vanoli, da equipe multidisciplinar da Associação Serpiá (Serviços Psicológicos para a Infância e Adolescência), de Curitiba (PR).

A análise do histórico de vida de João pode ajudar a entender como o problema se desenvolveu. Cláudia conta que o fato do menino não corresponder aos carinhos que recebia ainda bebê, evitar o seu olhar e não esboçar nenhum tipo de sentimento criou uma barreira entre ambos. Ela sonhara com um modelo ideal de criança a que João não correspondia. A frustração impedia uma proximidade, uma relação genuína de mãe e filho. "Era como se o João fosse uma criança qualquer. Apesar de estar ao seu lado fisicamente sempre, não conseguia me aproximar emocionalmente. Ele cresceu isolado de mim", afirma. Cláudia acredita que o problema no parto, de certa forma, criou uma ferida psicológica que marcou o garoto. "A verdade é que eu também tinha dificuldade de amar meu filho, talvez pelo meu histórico familiar. Cresci num ambiente em que as pessoas eram muito fechadas. Costumava me julgar uma pessoa carinhosa, mas dar carinho é diferente de dar amor."

O relato de Cláudia revela dois elementos que os especialistas costumam notar em casos em que o Transtorno Global de Desenvolvimento é diagnosticado. Em primeiro lugar, há uma enorme dificuldade para os pais aceitar o não-olhar dos filhos, interpretado como falta de afeto por parte da criança. Em segundo lugar, o problema sempre envolve o menor e o adulto responsável por sua criação, ou seja, ele não pode ser concebido como um fenômeno que acontece com somente uma pessoa. “É preciso tomar cuidado, porém, para não culpar os pais, porque são coisas que não costumam passar pela consciência deles”, diz Jussara Falek Brauer, professora aposentada e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas dos Distúrbios Graves na Infância do IP-USP. “A criança pode estar respondendo a algo de errado que está na mãe e que, às vezes, nem a própria mãe sabe que tem. Só por meio de análise é possível descobrir o que está acontecendo.”

Um estudo epidemiológico feito em 2008 pelo pesquisador americano Myron Belfer mostrou que até 20% das crianças e adolescentes sofrem de algum transtorno mental grave. Se for considerado o espectro autístico, pode-se falar em uma criança em cada 150, de acordo com a agência Centers for Disease Control e Prevention (ou CDC), do departamento de saúde e serviços humanos dos Estados Unidos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta uma taxa de 12% a 29% de prevalência de transtornos mentais na infância. De forma geral, a incidência de distúrbios como o de João é maior em meninos do que em meninas. Diagnosticar problemas psiquiátricos em crianças, no entanto, costuma ser difícil. "A partir de seis meses de idade, uma criança já pode mostrar sinais de autismo, como o não-olhar para a mãe, mas isso isoladamente não quer dizer que ela vá se tornar autista", afirma Maria Cristina. "É muito perigoso pegar um rótulo e colocar num bebê, porque ele vai procurar responder àquilo que todo mundo está falando que ele tem", diz Jussara.

Daí a necessidade de um diagnóstico feito por profissionais especializados. "Um bom acompanhamento médico é fundamental. Ele envolve um trabalho que deve considerar uma série de fatores, além da sutileza e singularidade de cada caso", diz Enriqueta. Foi o que aconteceu com João. Após a primeira consulta médica, ele já começou um tratamento que buscava reatar o diálogo perdido com os outros. Sua mãe também passou a se consultar com a mesma psicóloga responsável pelo acompanhamento do filho. "Nas sessões, eu aprendi como superar as minhas dificuldades de relacionamento com ele", afirma Cláudia.

Trabalhar a mãe e a criança com o mesmo profissional, mas em sessões individuais, é um dos segredos para o sucesso do tratamento. "Esse trabalho conjunto vai na direção da reconstituição da história familiar. A partir daí, tenta-se desfazer o emaranhado que cria problemas para a criança", afirma Jussara. A experiência da professora da USP mostra que 90% dos 105 menores que atendeu ao longo de sua pesquisa clínica na universidade deixaram de apresentar os sintomas que os levaram ao médico pela análise e correção do que havia de errado entre mãe e filho.

Seis anos após o início do tratamento, João leva hoje uma vida normal. Ele vai a uma escola comum – João está na segunda série do ensino fundamental de um colégio particular de São Paulo – , estuda inglês e, além de futebol, pratica natação e capoeira. Agora, convive bem socialmente, não se isola mais, gosta de conversar e qualquer dificuldade que tem recorre à ajuda da mãe. "Ele aprendeu a expressar muito bem o que sente. O distanciamento que existia antes acabou", diz Cláudia. Como João demorou para desenvolver seu lado social, o menino ainda apresenta algumas reações que não são adequadas, como querer exclusividade quando está brincando com um amiguinho.

Para mudar comportamentos como esse, ele frequenta duas vezes por semana a Associação Lugar de Vida, dedicada ao tratamento e à escolarização de crianças psicóticas, autistas e com problemas de desenvolvimento. Localizado no Butantã, na zona oeste de São Paulo, o Lugar de Vida iniciou suas atividades em 1990 como um serviço do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do IP-USP. Lá, João participa de Grupos de Educação Terapêutica (GETs) com outras crianças. Há dois focos de trabalho nos GETs: o primeiro compreende atividades como movimentação em brinquedos de grande porte, corridas, jogos de pátio com regras simples, encenação de pequenas peças, aprendizado de músicas e escuta de relatos de histórias – atividades, em geral, de cooperação grupal para o desenvolvimento do laço social; o segundo foco é na escrita e compreende atividades para o desenvolvimento do desenho, do grafismo e da superação das dificuldades de alfabetização. Para os pais, há uma reunião uma vez por semana em que eles podem conversar sobre os problemas dos filhos com a mediação de uma psicóloga. Nos encontros, compartilham suas dúvidas, obtêm esclarecimentos e trocam experiências."É bom participar desse tipo de reunião porque a gente percebe que não está sozinha nisso", afirma Cláudia.

Contar com o auxílio de bons profissionais e abraçar o problema para superá-lo – sem buscar um culpado – foram os principais elementos para a melhora do filho, segundo Cláudia. “Se o pai e a mãe não estão ali para ajudar, nada adianta. No começo, eu e meu marido ficamos muito atormentados com o que estava acontecendo, e juntos conseguimos enfrentar a situação”. A mãe coruja diz que João já sabe o que quer ser quando ficar mais velho: jogador de futebol do Santos, seu time do coração. O menino que antes não sabia se relacionar se apaixonou por um esporte em equipe e ensinou sua mãe a amá-lo.

* Os nomes foram trocados para preservar a identidade do menor e da mãe