quinta-feira, 24 de março de 2011

Um vestido que modificou uma vila

Um professor dava aula a crianças muito pobres numa escola da periferia. Havia entre ela uma menina muito bonita que lhe chamava atenção por estar sempre suja e com a roupa rasgada. Comovido, o professor resolveu comprar um vestido e dar-lhe de presente. A menina ficou tão contente com o presente que logo o vestiu.

Quando a mãe da menina a viu com uma roupinha tão linda, percebeu que não ficava bem a filha vestir um traje novo estando tão suja; passou então a dar banho na filha todos os dias, cuidando melhor de sua aparência.

Após uma semana, tendo o pai observado sua filha bem arrumada, comentou com a mulher:

- Estou envergonhado de ver nossa filha tão bonita e bem-arrumada morar nesta casa caindo aos pedaços. Vou pintar as paredes e fazer alguns consertos necessários para melhorar nosso lar.

Por sua vez a mulher, percebendo a casa mais bonita, começou a arrumá-la melhor, criando até um lindo jardim na frente.

Os vizinhos, assim que notaram as mudanças, também começaram a pintar suas casas... E dessa forma a vila inteira foi modificada.

Grandes mudanças começam com pequenas iniciativas.

sábado, 19 de março de 2011

Seu filho é ‘problema’?

Artigo publicado em 15/03/2011, no caderno Equilíbrio, do jornal Folha de S.Paulo

Todas as crianças, sem exceção, perdem o controle, fazem birra e arrumam encrencas de vez em quando

"Meu filho é um problema" é uma frase pronunciada com bastante frequência por muitos pais. Professores também falam dessa maneira em relação a alguns de seus alunos.

A maioria dessas crianças não é um problema: elas causam problemas para os seus responsáveis porque exigem uma atenção especial em seu processo educativo.

De vez em quando, todas as crianças, sem exceção nenhuma, se descontrolam, fazem birra, atrapalham o que o grupo faz, desorganizam o ambiente e arrumam encrencas verbais ou físicas com outras crianças. Todas elas procuram resolver seus conflitos à força, usam e abusam de sua capacidade de provocação e testam até o limite os valores dos adultos.

Pois bem: há crianças que fazem essas coisas quase que o tempo todo. São essas as chamadas de "problemáticas" ou difíceis.

Algumas dessas crianças, inclusive, foram encaminhadas a médicos, psicólogos e outros especialistas, ganharam algum tipo de diagnóstico e estão sendo medicadas e/ou tratadas.

Entretanto, muitas delas continuam criando situações problemáticas para os adultos responsáveis por sua educação.

No filme nacional chamado "O Contador de Histórias", um adolescente que vivia em uma instituição foi considerado "irrecuperável". Mas ele teve a sorte de encontrar uma mulher que não aceitou o destino planejado para ele e decidiu lhe oferecer uma chance.

A história mostrada no filme é inspirada em fatos reais. Hoje, aquele adolescente é pedagogo e um contador de histórias conhecido internacionalmente.

As crianças chamadas de problemáticas ou difíceis merecem, da parte dos adultos que as educam, a mesma compaixão que o personagem do filme recebeu. Empreitada difícil? Sim, sem dúvida alguma. Por isso, vamos nos dedicar a refletir a esse respeito.

Muitos afirmam que algumas dessas crianças fazem o que fazem "apenas" para chamar a atenção.

Pode ser verdade, já que muitas delas só conseguem atrair o olhar dos adultos que com elas convivem quando assim agem. Então, uma boa saída a oferecer a essas crianças não seria exatamente dar a elas o que elas pedem e precisam?

Não se trata, aqui, de aceitar o que a criança faz de errado. Ela consegue entender que ela não se resume àquilo que faz, quando o adulto a ajuda a perceber a diferença entre essas duas coisas.

Outra possibilidade que, combinada com a anterior, costuma funcionar é o adulto ter o entendimento de que essas crianças precisam de disciplina e firmeza. E que disciplina e firmeza são coisas muito diferentes de castigos e exaltação de ânimo. Ser firme é bem diferente de ser bravo, não é?

Finalmente: essas crianças devem ser tratadas como crianças que são -e não como alguns adultos que acatam o que lhes dizem e se esforçam para mudar seu comportamento.

Com as crianças precisamos, todo santo dia, agir como se fosse a primeira vez que elas tivessem feito aquilo que fizeram, mesmo que elas já tenham ouvido que não deveriam fazer.

O mais importante é ensinar a essas crianças que existem para elas outras escolhas, melhores. Afinal, quem é que não gosta de ser escolhido como companhia em vez de ser rejeitado?

É isso que essas crianças precisam aprender: que o seu comportamento faz com que outras crianças e até adultos evitem a companhia delas. E é bom saber que quem aprendeu a obter atenção dessa maneira não consegue mudar de estilo com facilidade.

Paciência, perseverança, insistência, firmeza, serenidade e compaixão: são esses os ingredientes necessários para aqueles que têm a responsabilidade de educar essas crianças.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de
"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

sexta-feira, 11 de março de 2011

Criança doente quer...

Artigo publicado em 01/03/2011, no caderno Equilíbrio, do jornal Folha de S.Paulo

Além de remédios e cuidados, filhos doentes precisam da serenidade e da paciência dos pais

PAIS DE CRIANÇAS sempre estão às voltas com doenças de seus filhos. Ora é uma gripe, uma infecção de garganta, febre, tosse, dificuldades respiratórias, dor de barriga, diarreia etc. Ah! E sempre é preciso contar também com pequenos ferimentos, fruto de quedas, tropeços e até de pequenas brigas.

Em toda casa em que há crianças, há sempre uma pequena farmácia: xaropes, antitérmicos, termômetro, inalador, umidificador de ar, gaze, esparadrapo, entre outros medicamentos e apetrechos, têm presença quase obrigatórias nessas casas.

É comum criança pequena perder a fome quando adoece. É que seu organismo precisa de energia para lutar contra a doença e não pode desperdiçá-la com o trabalho digestivo, não é verdade?

Mas uma gostosura feita com pouco açúcar e muito afeto sempre dá uma força extra para a criança.

A criança, quando está doente, precisa de muita, muita atenção e de carinho de seus pais ou parentes queridos. É que, com a doença, por mais simples que ela seja, chegam sensações não muito agradáveis de se conviver. A insegurança, o medo, a sensação de desamparo e a inquietação são algumas.

Se o adulto sente tudo isso nessa hora, por que haveria de ser diferente com os mais novos?

Então, além da visita ao médico de confiança e dos cuidados e remédios que ele prescreve, tudo o que o filho precisa nessa hora é da serenidade dos pais, de sua firmeza ao dar os remédios receitados e de muita, muita paciência deles. Colo: é disso que a criança precisa e quer.

Colo conforta, colo alegra, colo energiza a criança debilitada. E quando digo colo não me refiro apenas ao ato de pegar a criança.

Ler uma história para ela, relembrar um episódio engraçado, passar a mão em sua cabeça e até encorajá-la nas piores horas são excelentes remédios -ou melhor, colos- que os pais podem dar a seus filhos como uma ajuda importante em busca da recuperação da criança.

A base do excelente trabalho do grupo "Doutores da Alegria" é exatamente essa.

Mas, e quando os pais trabalham e não podem se ausentar de seus compromissos profissionais? Bem, se a realidade é essa, sempre é possível encontrar maneiras de se fazer presente na vida do filho mesmo na ausência.

Pequenos bilhetes carinhosos deixados com ele, telefonemas rápidos só para desejar melhoras, as refeições preferidas dele deixadas prontas são alguns exemplos. É bom lembrar que a casa, para a criança, representa seus pais, mesmo quando eles lá não estão. Por isso, só o fato de estar em casa já é um conforto.

Hoje, não é em casa que muitas crianças doentes ficam. Elas são levadas para a escola por seus pais. E pasme, caro leitor: algumas mães levam junto com o filho doente a receita médica e os remédios para que os professores deem para a criança. E mais: algumas mães até dizem que precisam que a escola faça isso porque elas próprias não conseguem. Lugar de criança doente não é na escola! Para a segurança física e emocional dela, convém lembrar.

Quem tem filhos deve saber que uma hora ou outra uma doença sem gravidade vai aparecer. E que isso significa noites mal dormidas, cansaço a mais, dedicação e cuidados especiais e mudança na rotina familiar. Não há como ser diferente.

Essas doenças leves logo passam. Mas a sensação de abandono que a criança doente deixada na escola por seus pais sente pode ficar.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de
"Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)