Pesquisa divulgada no decorrer desta semana pela mídia nacional trouxe uma informação que, assim se pode dizer, contraria o senso comum. Diz que as duas maiores cidades do País e também capitais, São Paulo e Rio de Janeiro, com toda a complexidade social que têm, estão fora da lista de lugares mais violentos para os jovens brasileiros.
O estudo foi feito em parceria do Ministério da Justiça com o Instituto Sou da Paz, do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção ao Delito e Tratamento do Delinquente (Ilanud), e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), para apresentação pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma organização não governamental sem qualquer vínculo partidário e que tem como objetivo dar suporte à gestão da segurança pública no País.
A pesquisa envolveu os 266 municípios do País que têm população acima de 100 mil habitantes. O levantamento fez um diagnóstico da exposição de jovens, da faixa etária de 12 a 29 anos, à violência, em suas mais variadas formas, por meio do Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ). Três cidades da Bahia estão entre as dez piores; há ainda municípios do Espírito Santo, de Minas Gerais, de Pernambuco e do Pará no topo daqueles considerados mais críticos. Daí uma constatação dos pesquisadores: a exposição do jovem à violência é maior no Norte e Nordeste do Brasil.
Na contramão, os resultados obtidos pelo levantamento apontam para quatro cidades paulistas consideradas de menor vulnerabilidade para os jovens. São elas: São Carlos, Bauru, Franca e São Caetano do Sul, em São Paulo. Isto não quer dizer que por aqui o problema é menor. Pode se concentrar com maior grau em determinadas regiões mais problemáticas em se tratando de indicadores sociais, mas é fato que a violência está disseminada no País.
O índice de vulnerabilidade, para explicar, leva em conta vários dados socioeconômicos como número de homicídios, escolaridade, acesso ao mercado de trabalho, renda e moradia. Ou seja: a criminalidade, que acaba ceifando também vidas precoces, pessoas cheias de sonhos, tem ligação também com escola, pobreza, desigualdade, entre outros fatores sociais, que empurram uma parcela da sociedade para a marginalidade ou lhe tira a expectativa de vida, a esperança de oportunidades.
Com essa pesquisa, também foi divulgado um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha sobre a percepção da violência entre os jovens. Os dados apurados são preocupantes. Este segundo estudo fez 5.182 entrevistas em 31 municípios de 13 Estados. Algumas conclusões, segundo informações divulgadas pela Folha Online: 31% dos jovens admitem ter facilidade para obtenção de armas de fogo; 64% deles estão expostos a algum risco ou história de violência e costuma ver pessoas, que não são policiais, portando armas.
Além disso, metade dos entrevistados declarou já ter presenciado algum tipo de violência policial e 11% deles disseram que isso é comum. Outros 88% declararam ter visto corpos de pessoas assassinadas; 8% afirmaram que pessoas próximas foram vítimas de homicídios. Ou seja: a violência está enraizada também no cotidiano dos jovens; eles não são somente vítimas de crimes como também convivem com a criminalidade no cotidiano.
A propósito, a pesquisa do Seade, divulgada nesta semana, revelou ainda que o perfil do jovem que está mais exposto a sofrer algum tipo de violência é típico e comum: de 19 a 24 anos, homens, negros. Para esses, recomendam os especialistas e sociólogos, deveriam ser criadas políticas públicas específicas. Mas como? Eis a questão.
Governantes falam muito, criam programas com nomes bonitos, mas que não conseguem tirar do papel, como aquele "Primeiro Emprego", do governo Lula, de que ninguém mais ouviu falar. Prometem investimentos em esportes, mas muitos atletas sequer têm condução para levá-los aos locais de treinamento. Investimentos têm sido feitos na educação para facilitar o acesso deles às universidades, isto é uma conquista, uma ressalva. Mas é muito pouco.
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