sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Artigo - Pequenos Adultos - Gazeta de Ribeirão - 13/11/2009

Pequenos adultos

Luciana Campaner
inbio@inbio.com.br


Não, crianças não são pequenos adultos e não deviam ser tratadas como tal.

As crianças de hoje são precoces em tudo: no desenvolvimento de múltiplos conhecimentos, na fala, na escrita, no uso do computador, na facilidade para lidar com a tecnologia. Se fosse só isso, tudo estaria muito bem. Mas essa geração vem acompanhando os adultos em muito mais do que isso.

As crenças que pregam ser a criança uma miniatura de adulto geram o surgimento de conceitos distorcidos, como o de que tudo o que serve para os pais serve, em menor grau, para os filhos. As roupas da moda, os sapatos de salto, os óculos escuros, as dietas alimentares, os dias cheios de compromissos estafantes, os remédios antidepressivos, os psicólogos e uma cobrança absurda em termos de ganhos escolares. Vejo nas revistas alguns atores de TV e cinema que vestem seus filhos exatamente como eles próprios, o que é aquilo ?

Criança possui um senso estético diferente. O que as atraem, em termos de roupa por exemplo, são as cores e as estampas dos personagens de desenho animado, por isso quando uma criança se veste sozinhas elas ficam todas coloridas, muitas vezes sem que uma peça combine com a outra.

A atividade física também é algo a se considerar. Sou totalmente a favor do esporte durante toda a vida mas tenho visto exageros. Aos 6 anos a criança atinge 90% do cérebro adulto enquanto o crescimento geral do corpo não atingiu nem a metade que ocorre pelos chamados estirões de crescimento. Nos primeiros dois anos, as crianças praticamente dobram sua altura, depois aos seis, crescem mais gradualmente quando aos sete ocorre um breve aumento da estatura chamado pelos especialistas em de "surto dos sete anos". É finalmente, na puberdade, que o ser humano define sua altura, último e definitivo impulso. A atividade física não competitiva, na justa medida durante a infância, entre outros benefícios, estimula a liberação hormonal e por consequência, o crescimento.

Um dos fatores mais importantes é deixar as crianças escolherem a modalidade esportiva, mas para isso é preciso criar oportunidade de conhecerem as atividades. O treinamento delas deve ser de forma lúdica do jeito que elas brincam. O pique - esconde, por exemplo, é um excelente exercício aeróbico! A produção da testosterona, hormônio ligado à força muscular, só começa a ser significativa na adolescência, razão teórica para o desaconselhamento de exercícios de força na primeira e segunda infância.

Deixem suas crianças serem crianças, moderem o volume de atividades para que sobre tempo para a fantasia.

(Luciana Campaner é psicóloga clínica e mestre em neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP. Site: www.inbio.com.br / E-mail: inbio@inbio.com.br)

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