Publicado na Gazeta de Piracicaba, de 08/08/2010
Andrea R. Martins Corrêa
Não é tarefa fácil refletir sobre o papel de pai em nossa sociedade. O movimento e a dinâmica da história da humanidade criaram configurações familiares outrora impensáveis. É preciso reconhecer que, nos dias de hoje, há diversas maneiras de ser pai, de cuidar dos filhos e de constituir uma família.
A família tradicional e eterna, que se conserva a todo custo no tempo, não é mais soberana. Temos então muitos pais separados e filhos que habitam pelo menos duas residências. Novos laços amorosos, estáveis ou não, são criados, resultando muitas vezes nas chamadas famílias reconstituídas. São casais que já têm filhos de relações anteriores e por isso mesmo desempenham também o papel de padrastos ou madrastas.
Casais adolescentes de namorados desenham ainda outros formatos de organização familiar, ao morar com seus próprios pais para cuidar dos filhos que vieram sem planejamento. Constatamos aqui a forte presença dos avós na educação das crianças.
Poderíamos incluir, nessa breve descrição, as famílias lideradas por mulheres, nas quais a figura do pai inexiste, e também as famílias homo afetivas, cujo casal é formado por pessoas do mesmo sexo.
O cenário é amplo, revelando a enorme diversidade da instituição familiar contemporânea, na qual se desenvolvem vínculos parentais importantes, dentre eles os vínculos de pais e filhos.
É inquestionável que tais vínculos também vêm se modificando, propiciando maior aproximação afetiva entre os filhos e seus pais, para além das mães. Na medida em que estas desempenham mais papéis do que antigamente, principalmente no mercado de trabalho; na medida em que o universo familiar foi adquirindo novas configurações, abriu-se um novo leque de funções para o homem que desempenha o papel de pai: ele também pode e deve cuidar dos filhos, tanto quanto a mãe.
Paternidade, nesta perspectiva, não significa apenas assumir os filhos como seus, provê-los e sustentá-los, mas inclui o exercício da maternagem, algo que implica em carregar os filhos no colo, fazê-los dormir, acompanhá-los na escola, ajudá-los a comer. Cada pai a seu modo, a partir de sua própria disponibilidade e da rede de relações que participa.
Quando pais e filhos têm a possibilidade de compartilhar essa experiência, a vida torna-se mais colorida. O exercício pleno e espontâneo da paternidade enriquece os vínculos familiares, oferecendo aos filhos, especialmente, outras referências de afetividade, de atitudes e de relacionamentos.
Nosso mundo, tão carente de criatividade, agradece. Nossas crianças também. Afinal, não devemos nos esquecer de que, para elas, os pais continuam a habitar um lugar sagrado no reino da imaginação: o lugar de super-heróis, detentores de super poderes, para fazer o bem ou o mal. A escolha, sabemos, é nossa.
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